HOME > COLUNA > SANDRO MALBURG BOSCO
Yoga e Satisfação
Por: Sandro Malburg Bosco
Atualizado em: 27/07/2011
A busca da satisfação impele o ser humano em muitas direções. Ele busca satisfação em ter todas as coisas que vê e que estão ao seu alcance e move montanhas em busca daquilo que não está ao seu alcance.
Hoje a pulsante energia do consumo estimulado pela mídia cria ainda novas necessidades na busca pela satisfação.Mas esta questão não é de hoje, aliás é bem antiga. Uma parábola indiana retrata um dos cenários que ocorre até hoje na vida mundana: ‘a incontrolável busca pela satisfação’.
Havia na Índia antiga um rei muito rico e conhecido por sua generosidade. Não longe dali morava um santo que acolhia muitos buscadores que buscavam a paz e o auto-conhecimento.
Seu local era não mais que uma choupana e quantas vezes as pessoas que o visitavam ficavam no sol quente ou no sereno da noite, pois nem a pequena varanda conseguia dar teto e abrigar os muitos que o visitavam. O velho sábio pensou em pedir um pequeno auxílio ao abastado rei para poder melhorar suas condições e receber melhor aquelas pessoas carentes de luz vindas de toda parte.
Ao chegar ao palácio a guarda real pediu ao respeitado sábio que aguardasse em uma ante-sala pois o rei estava orando.
Ali sentado era impossível não ouvir sua alteza clamar a Deus por mais vitórias e conquistas para crescer suas posses e riquezas e poder e, assim, intermináveis eram os e pedidos em suas orações.
Passada meia hora de espera o santo levanta para deixar o palácio. Percebendo os movimentos e ruídos na sala ao lado o rei ordena em voz alta que ele o aguarde.
Após uma longa espera a conversa se inicia:
- Como ousas deixar o palácio real sem falar com sua alteza?
- Desculpe-me majestade, mas vim pedir um pouco de apoio material por um fim que julgo digno e enquanto aguardava foi impossível não ouvir suas orações que pediam incessantemente mais e mais a Deus, como que mendigando por mais e mais posses. Ora se a quem eu vou pedir auxílio também está mendigando a Deus então achei que posso mendigar direto a Deus; sem intermediários.
Conta-se que esta foi uma grande lição para o rei pela compreensão que lhe trouxe o encontro com o santo onde aprendeu sobre a eterna insatisfação que move a mente humana.
A satisfação humana é efêmera e via de regra dura menos que o tempo de uma digestão.
O praticante de Yoga deve compreender que a mente humana não tem a função de trazer satisfação mas sim de gerar mais desejos e com isso alimentar suas insatisfações.
Por isso os sábios yogis focam e orbitam seus ensinamentos na compreensão da mente.
No Yoga vale a experiência, e o que desperta em você a vontade da experiência são os ensinamentos e o estímulo e vigilância de um mestre.
Quantas vezes você já se sentiu inteiramente satisfeito depois de uma prática de Yoga ou depois de uma aula de Yoga?
Ou já se sentiu profundamente satisfeito depois de uma jornada intensiva de Yoga como um retiro?
O Yoga traz satisfação, pois o traz para dentro, para conhecer seu universo interior.
Tudo que você busca no mundo por toda a vida e, segundo as escrituras, por muitas vidas você encontrará dentro de si mesmo.
Se você nunca praticou Yoga pode reconhecer esta satisfação no corpo e na mente quando acorda de um sono restaurador e se sentiu satisfeito inteiramente e às vezes, como depois da prática de Yoga, até sem fome.
Isto ocorre porque assim como na meditação e no Yoga, no sono você se volta para dentro, seus órgãos de percepção se voltam para dentro - pratyahara - e você entra em contado com a sua fonte interior – dhyana- mais profunda e toca lá dentro o oceano de satisfação e paz – satchidananda.
Seguir a mente é seguir seus próprios pensamentos e salvo àqueles praticantes muito afortunados e que possuem uma mente pura, seguir a mente é trilhar o caminho da insatisfação.
Certa vez, na Índia, um comerciante mandou seu empregado levar a uma aldeia vizinha um grande pote de ghee (manteiga) mas lhe alertou:
- Tome cuidado ao carregá-lo. É só meia hora de caminhada, mas se fizer o trabalho bem feito lhe recompenso com 30 rúpias.
O empregado equilibrando o pote de ghee na cabeça e segurando com uma das mãos sai com a mente fervilhando de pensamentos desejosos por enriquecer.
Ele pensa:
- Bem, com estas trinta rúpias posso comprar galinhas e um galo, vender ovos e logo criar pintinhos e vender os frangos e com este resultado comprar um casal de cabras e com a cria comprar um pedaço de terra e plantar. Bem, com o resultado financeiro da lavoura vou montar um restaurante e com os primeiros lucros do restaurante contratar um cozinheiro e com isto conquistar uma boa clientela ... mas de repente um pensamento sorrateiro intercalou-se na sua próspera sequência de idéias.
- Ai meu Deus e se o cozinheiro errar na cozinha e se isto acarretar em começar a perder clientes e se isto me gerar dívidas e se eu não conseguir pagá-las? Vou ficar pior do que estou agora?
Foi quando de tão preocupado tirou uma das mãos que segurava o precioso ghee e pôs as duas mãos preocupado na cabeça e o pote espatifou-se no chão.
Ao narrar o ocorrido ao patrão este o repreende.
- Como você conseguiu em uma tarefa tão simples não terminá-la a contento.
Você me fez perder os lucros da venda e a longa produção de ghee!
O empregado argumentou:
- O sr. patrão perdeu somente um pote de ghee e eu que perdi as galinhas, as cabras, minha terra e minha lavoura e meu restaurante.
Você bem sabe que assim é a mente; cria cenários inexistentes e sofrimentos até então inexistentes e o doloroso desejo de sempre querer mais alimentando a insatisfação.
Na Bhagavad Gita o senhor Krishna nos traz tremenda luz ao tema quando nos adverte que: - Temos direito à ação mas não aos frutos da ação.
A prática deste ensinamento nos libera do sofrimento da eterna insatisfação.
Nos traz foco para momento da ação.
Nos prepara para algo precioso no Yoga e meditação que é vairagya – desapego e renuncia.
Fortalece a qualidade da ação uma vez que estando livre dos frutos você coloca mais o coração na ação, mais leveza e totalidade na ação, deixando a carga sombria da mente de lado.
Para você, professor e professora de Yoga, a B.G. ensina a ensinar Yoga como um ato de servir a humanidade e não de levá-lo a prisão de acumular resultados.
O cerne e o fruto deste ensinamento é a prática libertadora do Karma Yoga:
- A ação pela ação.
A ação pelo amor da ação não visa frutos sendo o fruto, ou o melhor resultado, a própria entrega ao momento presente da ação.
Quem já conhece o dito: ‘quem nada quer tudo tem’
O valioso ensinamento em questão do Bhagavad Gita é de difícil compreensão, pois o entendimento vem com o exercício dele e não com a discussão sobre ele.
A discussão sobre ele traz a insatisfação de não compreendê-lo em profundidade e sua prática traz a satisfação do entendimento da própria experiência.
Ninguém rouba a sua experiência ela é o seu bem mais protegido!
Yoga é ação, ação traz experiência e experiência - como professor de Yoga ou aluno de Yoga - é o seu bem mais valioso.Sandro Bosco - Yoga Dham(11) 3875-1079 - (11) 3864-7534Rua Diana, 511 - Perdizes - SPsite. www.Yogadham.com.brblog. http://blogdoyogue.uol.com.brtwitter. http://twitter.com/sandrobosco
Nenhum comentário:
Postar um comentário