Entrevista com Gloria Arieira
Por Vicente Morisson, para o blog Vedanta, Yoga e o Mar
Gloria Arieira é a diretora-presidente do Vidya Mandir. Em janeiro de 1974 foi para a Índia estudar com Swami Dayananda, que se tornou seu mestre. Com ele estudou até julho de 1978, retornando então ao Brasil. Além de permanecer no Āśhram Sandeepani Sadhanalaya, um local de estudo e vivência com o mestre, em Mumbai, também estudou em outros āśhrams em Uttarkashi e Rishikesh, norte da Índia. Viajou também para lugares nas várias regiões da Índia, para participar de cursos, palestras e visitas a lugares sagrados, como os templos de Tamil Nadu e Kerala, conhecendo melhor a tradição cultural e religiosa dos vedas.
Desde seu retorno, vem ensinando vedānta e sânscrito no Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil e também no Porto, em Portugal. Dedica-se também ao trabalho de tradução para o português dos textos em sânscrito, como a Bhagavadgītā, Upanishads e vários outros. É responsável pela publicação em português dos livros de Swami Dayananda, editados pela Vidyamandir Editorial, e de dois outros livros: Orações Milenares e Pūja – a realização de um ritual védico.
Vicente Morisson: Quando você se interessou pelo estudo do Vedānta e por quê?
Gloria Arieira: Eu buscava respostas para questões sobre a vida, como alcançar a paz definitiva e sobre a existência de Deus, e principalmente sobre o objetivo último de se viver a vida. Tinha uns 18 anos e não encontrei respostas claras em filósofos nem em religiões. Comecei a praticar Yoga e meditação, antes me tornei vegetariana e questionei muito sobre a importância da verdade e da sinceridade. Um dia, conheci Vedānta através de um Swami que veio ao Brasil por dois dias; foi o Swami Chinmayanandaji. Foi a minha sorte grande na vida! O que ele falou fez tanto sentido que resolvi estudar mais com ele, na Índia.
VM: Como foi estudar na Índia nos anos 70? Você sofreu algum tipo de dificuldade por ser jovem, mulher e ocidental?
GA: Fui para Índia em janeiro de 1974. Ainda no Brasil, em minha busca, conheci uma pessoa que tinha as mesmas questões que eu. Nos casamos, conhecemos Vedānta juntos e fomos para Índia. Acho que foi mais fácil para mim por ter ido casada. Apesar de que ficamos separados no āśram, vivendo a vida de estudantes, brahmacaris e brahmacarinis.
Vida de āśram e de estudo intensivo de Vedānta não é fácil, principalmente na Índia, onde a cultura é tão diferente da nossa. Mas eu queria muito estudar e me adaptar, por isso não foi difícil.
Desde seu retorno, vem ensinando vedānta e sânscrito no Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil e também no Porto, em Portugal. Dedica-se também ao trabalho de tradução para o português dos textos em sânscrito, como a Bhagavadgītā, Upanishads e vários outros. É responsável pela publicação em português dos livros de Swami Dayananda, editados pela Vidyamandir Editorial, e de dois outros livros: Orações Milenares e Pūja – a realização de um ritual védico.
Vicente Morisson: Quando você se interessou pelo estudo do Vedānta e por quê?
Gloria Arieira: Eu buscava respostas para questões sobre a vida, como alcançar a paz definitiva e sobre a existência de Deus, e principalmente sobre o objetivo último de se viver a vida. Tinha uns 18 anos e não encontrei respostas claras em filósofos nem em religiões. Comecei a praticar Yoga e meditação, antes me tornei vegetariana e questionei muito sobre a importância da verdade e da sinceridade. Um dia, conheci Vedānta através de um Swami que veio ao Brasil por dois dias; foi o Swami Chinmayanandaji. Foi a minha sorte grande na vida! O que ele falou fez tanto sentido que resolvi estudar mais com ele, na Índia.
VM: Como foi estudar na Índia nos anos 70? Você sofreu algum tipo de dificuldade por ser jovem, mulher e ocidental?
GA: Fui para Índia em janeiro de 1974. Ainda no Brasil, em minha busca, conheci uma pessoa que tinha as mesmas questões que eu. Nos casamos, conhecemos Vedānta juntos e fomos para Índia. Acho que foi mais fácil para mim por ter ido casada. Apesar de que ficamos separados no āśram, vivendo a vida de estudantes, brahmacaris e brahmacarinis.
Vida de āśram e de estudo intensivo de Vedānta não é fácil, principalmente na Índia, onde a cultura é tão diferente da nossa. Mas eu queria muito estudar e me adaptar, por isso não foi difícil.
VM: Você pensou em viver na Índia de forma definitiva?
GA: Eu pensava em viver na Índia depois que o curso acabasse, pois eu tinha me adaptado plenamente e gostava da cultura. Mesmo durante o curso dei aulas para algumas pessoas e até para crianças indianas sobre a cultura e seu significado. Mas bem no final do curso eu pensei que como poderia ter nascido na Índia e não nasci, teria uma razão maior para ter nascido no Brasil. Eu deveria voltar e ensinar Vedānta em português às pessoas que não poderiam fazer o que eu fiz. Então voltei. Cheguei de volta ao Brasil no final de setembro de 1978.
VM: O que mais significativamente mudou para você ao compreender o significado do conhecimento do Vedānta?
GA: O principal foi o relaxamente interno ao encontrar respostas para todas as minhas questões sobre mim mesma, sobre a vida, sobre Deus.
VM: Qual é importância de um professor no aprendizado desse conhecimento?
GA: Um professor ou professora é fundamental. Primeiro porque existe mais do que está escrito nos textos, que são as explicações da tradição oral, que só uma pessoa que estudou com um professor que estudou com outro é que terá acesso.
Além disso, o autodidata tem grandes chances de aumentar e fortalecer seu ahamkāra; fortalecendo o ego, o eu falso, é difícil reconhecer o verdadeiro.
VM: Você tem alguma prática pessoal? Caso sim, como ela é?VM: O que mais significativamente mudou para você ao compreender o significado do conhecimento do Vedānta?
GA: O principal foi o relaxamente interno ao encontrar respostas para todas as minhas questões sobre mim mesma, sobre a vida, sobre Deus.
VM: Qual é importância de um professor no aprendizado desse conhecimento?
GA: Um professor ou professora é fundamental. Primeiro porque existe mais do que está escrito nos textos, que são as explicações da tradição oral, que só uma pessoa que estudou com um professor que estudou com outro é que terá acesso.
Além disso, o autodidata tem grandes chances de aumentar e fortalecer seu ahamkāra; fortalecendo o ego, o eu falso, é difícil reconhecer o verdadeiro.
GA: Estudo, medito, faço japa e cantos védicos diariamente. Além de dividir o conhecimento de Vedānta com outras pessoas, ensinando.
VM: Qual é o objetivo da meditação? Que dica você daria para quem está querendo começar a meditar?
GA: A forma mais efetiva de meditação é japa, a repetição de um mesmo mantra, com todos os detalhes que a técnica inclui.
A meditação tem como objetivo último a descoberta da paz que é nossa natureza. Por isso, desde o início, a meditação tem que ser algo agradável. Se não for, algo está sendo feito erradamente.
VM: Qual é a relação que podemos encontrar entre o Vedānta e o Yoga?
GA: Yoga é, desde sempre, nos Vedas, um estilo de vida que inclui muitas práticas e atitudes para preparar a pessoa para o autoconhecimento, que é Vedānta.
VM: Já que o nosso blog explora também o universo do mar, e por você morar no Rio de Janeiro, ele tem alguma importância para você?
GA: Eu moro bem perto do mar, ele sempre esteve presente em minha vida. Foi o meu primeiro lugar de meditação. O mar é um deva, uma expressão de Īśvara, é uma fonte de inspiração por sua força, grandeza e profundidade. Ele tem vida e se expressa através de seu constante movimento.
VM: Como é a sua relação com a religião?
GA: O estudo de Vedānta não exige que a pessoa seja religiosa. Eu me tornei hindu por opção, porque as práticas da religião hindu fizeram sentido para mim.
VM: Você já enfrentou alguma situação de risco de vida? Como encara a morte?
GA: Já encarei situação de risco de vida. Encaro a morte como o fim de uma vida; e a vida somente acaba quando o que se veio fazer aqui já foi feito. É então um momento inevitável e natural, ainda que de grande expectativa, pois nada sabemos a respeito diretamente. Culturalmente pensamos muito na vida e em como aumentar sua duração, devemos pensar e entender mais sobre a morte que é natural e inevitável.
VM: Quem são as suas grandes referências no estudo do Vedānta?
GA: Minhas referências são meus mestres diretos, Swami Dayananda e Swami Chinmayananda e o grande mestre de todos nós que estudamos Advaita Vedānta – Śri Shankara. Também tenho meus colegas de estudo do tempo do āśram como referência; encontro com alguns deles ainda. O mestre do Swami Chimayananda, chamado Swami Tapovan, foi também uma inspiração durante meus estudos.
VM: Como é a sua relação com a religião?
GA: O estudo de Vedānta não exige que a pessoa seja religiosa. Eu me tornei hindu por opção, porque as práticas da religião hindu fizeram sentido para mim.
VM: Você já enfrentou alguma situação de risco de vida? Como encara a morte?
GA: Já encarei situação de risco de vida. Encaro a morte como o fim de uma vida; e a vida somente acaba quando o que se veio fazer aqui já foi feito. É então um momento inevitável e natural, ainda que de grande expectativa, pois nada sabemos a respeito diretamente. Culturalmente pensamos muito na vida e em como aumentar sua duração, devemos pensar e entender mais sobre a morte que é natural e inevitável.
VM: Quem são as suas grandes referências no estudo do Vedānta?
GA: Minhas referências são meus mestres diretos, Swami Dayananda e Swami Chinmayananda e o grande mestre de todos nós que estudamos Advaita Vedānta – Śri Shankara. Também tenho meus colegas de estudo do tempo do āśram como referência; encontro com alguns deles ainda. O mestre do Swami Chimayananda, chamado Swami Tapovan, foi também uma inspiração durante meus estudos.
VM: Qual é a sua preferência alimentar? Você faz algum tipo de acompanhamento nutricional?
GA: Sou vegetariana; incluo leite e derivados em minha alimentação. Exames de sangue regulares dizem que a alimentação vegetariana tem dado certo para mim.
VM: De uma maneira geral, como você vê a relação entre o homem e o meio em que ele vive atualmente?
GA: O ser humano depende da natureza para sua sobrevivência. A natureza reage conforme a atuação do ser humano. Há uma dependência mútua entre os dois. Como seres humanos, devemos reconhecer tudo o que recebemos da natureza, ser gratos a ela e expressar essa gratidão através de ato de cuidado para com ela. Cuidar dela é cuidar de nós mesmos e de nossa paz e bem-estar. É necessário uma maturidade para entender isso e agir de acordo com esse entendimento. Definitivamente a natureza não foi criada para nosso consumo!
VM: Qual o lugar mais especial que você já visitou e por quê?
GA: Já visitei alguns lugares significativos e especiais. O mais especial foi o templo de Venkateshvara em Tirupati, perto de Chennai, India. Desejei e tentei visitar esse templo inúmeras vezes, desde 1975. Só consegui ir em setembro de 2007. Foram muitos anos de desejo e expectativa que tornaram o momento ainda mais especial.
VM: Que dica você daria para aquelas pessoas que compreendem o conteúdo do ensinamento do Vedānta, mas têm dificuldade de colocá-lo em prática no momento oportuno? Como fazemos para trazer a acomodação?
GA: O estudo de Vedānta é sobre o eu absoluto que é livre de limitação, que é pleno. Quando descobrimos esse eu, há muitas vezes a expectativa ou fantasia de ser perfeito como pessoa. Não conseguimos acomodar a nós mesmos com nossas limitações, imperfeições e dificuldades, então não acomodamos os outros nem as situações não desejadas que surgem. Quando acomodamos a pessoa relativa em nós, lidamos melhor com o mundo e com o outro, em consequência.
VM: Existe algum desafio no seu trabalho hoje?
GA: Cada aula é para mim um desafio, em poder transmitir, com clareza, em português, para um grupo de pessoas atentas sentadas à minha frente, o que está dito nos textos em sânscrito e explicado pela tradição oral.
VM: O que você considera essencial para se viver bem?
GA: Ser uma pessoa coerente, sincera e discriminativa.
VM: Que dica você daria para quem está querendo se aprofundar no estudo do Vedānta?
GA: Procure uma pessoa que possa lhe ensinar, sente e escute o ensinamento, não negligencie a sua vida diária e o que deve ser feito por você. Tente entender a natureza de Īśvara e busque proteção para lidar com humildade com seus sucessos e conquistas.
Vicente Morisson é professor de Yoga (São Paulo), estudante de Vedānta e amante do mar. Tem Swami Dayananda, Gloria Arieira e Pedro Kupfer como seus inspiradores na prática e no estudo.
Maiores informações sobre Gloria Arieira: www.vidyamandir.org.br
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